A falência crônica de órgãos é uma das principais causas de morte – cerca de 500.000 pessoas são diagnosticadas com insuficiência cardíaca todos os anos nos EUA. No entanto, apenas alguns milhares de transplantes de coração são realizados anualmente. A maioria dos pacientes não são bons candidatos devido à idade, condições médicas ou à escassez de órgãos doadores.
Em Stanford, o bioengenheiro Mark Skylar-Scott tem dedicado os últimos cinco anos à busca por um objetivo que parece saído da ficção científica: a impressão 3D de corações e outros órgãos sob demanda, utilizando células do próprio paciente. A questão central de sua pesquisa é como transformar algumas células cultivadas em laboratório em um quilo de tecido funcional, capaz de pulsar diante dos olhos dos cientistas. O processo envolve desafios biológicos complexos, como a produção acessível e reprodutível de bilhões de células, a impressão rápida e eficiente desses tecidos e a criação de um ambiente propício para que as células amadureçam e prosperem. Um dos maiores obstáculos é a necessidade de vascularização, ou seja, a inclusão de vasos sanguíneos nos tecidos para fornecer oxigênio e nutrientes essenciais à sua sobrevivência.
O laboratório de Skylar-Scott planeja, dentro de três anos e meio, implantar um órgão humano impresso em 3D em um modelo de porco. A expectativa é que os estudos com animais de grande porte sirvam como um passo intermediário para, no futuro, estabelecer os marcos necessários para testes em humanos, um processo que pode levar mais de uma década. Apesar do longo caminho, a pesquisa tem avançado de forma significativa. O objetivo final desse trabalho é possibilitar a bioimpressão de um coração humano personalizado, criado a partir das próprias células do paciente, eliminando a necessidade de imunossupressores. Diferente dos xenotransplantes, que utilizam órgãos de porcos e exigem doses elevadas de medicamentos para evitar rejeição – muitas vezes sem sucesso a longo prazo –, essa abordagem busca oferecer uma solução definitiva e personalizada para pacientes com falência cardíaca. Para Skylar-Scott, essa tecnologia representa o verdadeiro “Santo Graal” da medicina curativa: a possibilidade de substituir um órgão doente por um novo, criado sob demanda.
Ao apresentar seu trabalho para investidores e empresários, Skylar-Scott frequentemente recebe o feedback de que o projeto parece ambicioso demais. Para ele, essa percepção reforça que a pesquisa acadêmica está cumprindo seu papel. Enquanto o setor privado tende a financiar inovações que estarão disponíveis em um horizonte de cinco a dez anos, a academia deve se dedicar a desafios ainda mais ousados: formar uma nova geração de cientistas, desenvolver tecnologias inéditas e estabelecer novos paradigmas na medicina regenerativa. Skylar-Scott considera um privilégio trabalhar nessa área e acredita que a missão da academia é justamente transformar problemas aparentemente impossíveis em soluções viáveis. Para ele, essa é a verdadeira essência da inovação científica.