Quando se trata do Facebook, as notícias importam — não as falsas, mas as reais, geradas por jornalistas profissionais. Essa é a conclusão de um estudo da Universidade do Michigan, que buscou examinar como o conteúdo jornalístico afeta os agregadores de notícias e como sua presença afeta o engajamento do usuário e a geração de conteúdo não jornalístico. Especificamente, a pesquisa conclui que o conteúdo jornalístico na rede social global é economicamente benéfico para a própria plataforma.
As descobertas oferecem dados novos e úteis, já que muitos países buscam desenvolver regulamentações consideradas justas tanto para agregadores quanto para editores, como mudar as leis de direitos autorais, dizem os pesquisadores da Ross School of Business da Universidade do Michigan. Yu Song, doutoranda da Ross, e Puneet Manchanda, professor de marketing, aproveitaram um “experimento natural” em 2021, quando o Facebook bloqueou todas as notícias de serem vistas ou compartilhadas por usuários em sua plataforma na Austrália por vários dias. Isso ocorreu em resposta à aprovação de uma legislação pelo governo australiano que visa obrigar gigantes da tecnologia a compensar os veículos de notícias pela publicação ou compartilhamento de seu conteúdo jornalístico. Song e Manchanda constataram que, durante o lockdown, o engajamento total dos usuários com conteúdo não jornalístico diminuiu quase 11% e o número de postagens diárias geradas por conteúdo não jornalístico caiu quase 9% no curto prazo. Durante o mesmo período, não houve mudanças que afetassem agregadores e editores de notícias na vizinha da Austrália, a Nova Zelândia, que serviu como controle.
O estudo também revela que a divulgação de notícias tem um impacto economicamente significativo nas receitas de publicidade do Facebook Austrália: ele calculou a perda de receita de publicidade, representando 4,3% da receita anual de publicidade do Facebook na Austrália. A pesquisa preenche uma lacuna de conhecimento sobre como o conteúdo jornalístico afeta os agregadores de notícias. Sabe-se ainda menos sobre como a presença de notícias afeta o engajamento do usuário e a geração de conteúdo não jornalístico nas principais plataformas de mídia social, como o Facebook.
Os resultados, afirmam eles, “indicam que a veiculação de notícias beneficia as plataformas de mídia social por meio de efeitos positivos sobre o conteúdo não noticioso”. Os resultados do estudo também fornecem uma estimativa útil para os reguladores, que consideram se e quanto de compensação deve ser fornecido aos editores de notícias. “A narrativa atual do Facebook sugere que ele beneficia os editores de notícias, mas nosso estudo revela que ele também ganha ao publicar notícias”, dizem os autores do estudo.
Song e Manchanda observam algumas limitações do estudo, incluindo o fato de o fechamento ter sido breve, o que os impossibilitou de fornecer insights a longo prazo. Nesse caso, o Facebook poderia alterar seu algoritmo para exibir o conteúdo de forma diferente, e os consumidores poderiam mudar os canais pelos quais consomem notícias. O estudo foi aceito para publicação na Marketing Science. Manchanda é o editor-chefe do periódico acadêmico, embora o artigo de pesquisa tenha sido submetido antes do anúncio de sua nomeação e tenha sido conduzido pelo editor-chefe anterior.
