Um novo estudo internacional confirma uma tendência observada ao longo das últimas duas décadas: meninos demonstram maior resiliência diante de contratempos acadêmicos cotidianos, como notas baixas, prazos apertados ou sobrecarga de tarefas. O fenômeno, conhecido como flutuabilidade acadêmica, diz respeito à capacidade de estudantes lidarem com os altos e baixos da rotina escolar — e se relaciona fortemente com o desempenho, o engajamento e a motivação ao longo da trajetória educacional.
A meta-análise, que reuniu 53 estudos conduzidos entre 2008 e 2024 e incluiu dados de mais de 173 mil estudantes de países como Estados Unidos, Reino Unido, Finlândia, China e Austrália, revelou um padrão claro: os meninos apresentaram níveis estatisticamente superiores de flutuabilidade acadêmica em comparação às meninas. Embora a diferença tenha sido classificada como de pequeno a médio porte, ela é considerada confiável e perceptível.
Ainda que o estudo não tenha investigado as causas do fenômeno, pesquisas anteriores sugerem que meninas tendem a apresentar níveis mais altos de ansiedade acadêmica, o que pode impactar negativamente sua capacidade de lidar com frustrações e obstáculos na rotina escolar.
Implicações para a carreira e gestão de talentos
As descobertas sobre a flutuabilidade acadêmica têm implicações diretas para o ambiente corporativo. A resiliência diante de contratempos – desenvolvida ainda nos anos de formação – antecipa competências críticas valorizadas no mundo profissional, como adaptabilidade, inteligência emocional e capacidade de aprender com o erro. Para líderes empresariais, entender essas diferenças comportamentais desde a base educacional pode apoiar estratégias mais eficazes de recrutamento, treinamento e retenção de talentos. Investir no desenvolvimento dessas habilidades não apenas fortalece o pipeline de lideranças futuras, como também promove culturas organizacionais mais ágeis, colaborativas e preparadas para a incerteza.
Caminhos para desenvolver a resiliência
A boa notícia é que a flutuabilidade acadêmica pode ser ensinada, desenvolvida e sustentada. Pesquisadores identificaram duas abordagens complementares para educadores e pais. A primeira é direta, com ações como ajudar os alunos a reconhecer os sinais iniciais de adversidade, ajustar seus pensamentos, comportamentos e emoções, e celebrar pequenas vitórias que reforcem sua capacidade de superação.
A segunda abordagem foca nos chamados “6 Cs da resiliência acadêmica”:
* Confiança: fortalecer a crença do aluno em sua própria capacidade;
* Coordenação: ajudar no planejamento e organização dos estudos;
* Comprometimento: estimular persistência e definição de metas;
* Controle: focar no que o aluno pode controlar, como o esforço pessoal;
* Compostura: trabalhar o controle da ansiedade e o equilíbrio emocional;
* Comunidade: promover apoio social de colegas, professores e família.
O estudo ainda ressalta que, apesar das médias, não se deve generalizar: há meninas com alta flutuabilidade e meninos com baixa resiliência. O ponto central está em identificar quem precisa de apoio e garantir que todos tenham as ferramentas para desenvolver essa competência. Por fim, diante da disparidade de gênero revelada pela análise, os autores defendem que é hora de investir no fortalecimento da resiliência acadêmica como uma competência essencial para o sucesso escolar – não apenas para meninas ou meninos, mas para todos os estudantes.