Centros de distribuição — aqueles grandes galpões que armazenam, organizam e despacham os produtos comprados online — viraram parte essencial da vida moderna. Mas como anda a rotina de quem trabalha neles? Um estudo do MIT Sloan School of Management mostrou que, ao dar voz aos trabalhadores da linha de frente, é possível melhorar significativamente a saúde mental, o engajamento e até reduzir a rotatividade. A pesquisa, liderada por Erin Kelly, professora de Estudos de Trabalho e Organização do MIT, acompanhou o dia a dia em centros de distribuição de uma grande empresa americana (não identificada no estudo). Segundo Kelly, esses empregos oferecem estabilidade e bons salários para quem não tem diploma universitário, mas também são marcados por alta pressão, monitoramento constante e exaustão física. Em 2019, a equipe do MIT iniciou entrevistas com mais de 100 funcionários e líderes para entender os desafios do trabalho. Com a pandemia de COVID-19, a pressão sobre os centros de distribuição aumentou — e o projeto ganhou um novo rumo.
A solução: escuta ativa e participação
A partir das conversas com os próprios funcionários, a equipe criou os HaWCs (Health and Wellness Committees) — pequenos comitês de bem-estar formados por colaboradores de diferentes departamentos, incluindo supervisores. Eles se reuniam para discutir problemas do dia a dia, sugerir melhorias e propor soluções simples, mas eficazes. Algumas mudanças foram pontuais, como distribuir vassouras em áreas onde faltavam ou permitir que os funcionários escolhessem a música ambiente. Outras foram mais estruturais, como ampliar o tempo de treinamento de novos contratados e criar guias visuais para quem precisa cobrir tarefas de colegas em outros setores. A escuta genuína fez diferença. Após seis meses, os centros com os HaWCs registraram uma redução de 33% nos casos de sofrimento psicológico moderado ou grave e uma queda de 20% na taxa de desligamentos em relação ao ano anterior.
Tecnologia vs. relações humanas
O estudo também comparou os resultados dos HaWCs com uma iniciativa paralela: quiosques eletrônicos, instalados nas salas de descanso, onde os trabalhadores podiam deixar reclamações ou sugestões de forma anônima. O resultado? Os quiosques não fizeram diferença na rotatividade, enquanto os comitês mostraram resultados significativos. “O que mais impactou foi o sentimento de respeito. Ser ouvido, sentir que sua experiência conta, que sua opinião pode gerar mudanças — isso faz diferença para os trabalhadores”, afirma Erin Kelly.
A iniciativa mostra que, em um setor cada vez mais tecnológico e automatizado, o fator humano ainda é o diferencial mais poderoso para criar ambientes de trabalho saudáveis e produtivos. A pesquisa agora avança para análises de longo prazo e já está sendo utilizada como estudo de caso para alunos de MBA do MIT. A expectativa é que outras empresas se inspirem no modelo.