Quando drones de baixo custo atravessaram centenas de quilômetros, penetraram o espaço aéreo russo e destruíram aeronaves estratégicas usadas tanto para ataques nucleares quanto para bombardeios de longo alcance, o mundo percebeu que algo profundo havia mudado na lógica dos conflitos globais. A operação, apelidada de Teia de Aranha, não só marcou um feito militar impressionante da Ucrânia, como também acendeu um alerta vermelho. Para Eric Rosenbach, professor da Harvard Kennedy School e ex-chefe de gabinete do Departamento de Defesa dos EUA, esse episódio não é apenas mais um capítulo da guerra na Ucrânia. É, sim, um divisor de águas na história da guerra moderna. “O mais significativo não foi apenas o uso de drones, mas a capacidade de projetar poder de forma barata, rápida e praticamente impossível de ser detectada”, afirma. O recado é claro: a era dos drones — impressos em 3D, equipados com peças compradas no mercado global e, cada vez mais, impulsionados por inteligência artificial — já não é coisa do futuro. Ela está acontecendo agora.
Uma nova ordem militar: barata, descentralizada e invisível
Se antes os ucranianos improvisavam, acoplavam explosivos a drones comerciais para conter avanços de tanques russos, agora operam uma cadeia produtiva que supera, em alguns aspectos, a capacidade industrial de defesa dos próprios Estados Unidos. Com produção descentralizada e design próprio, os drones ucranianos demonstraram que não é preciso ser uma superpotência para ameaçar infraestrutura crítica de qualquer nação. Para líderes empresariais e formuladores de estratégias, essa mudança traz implicações que vão além do campo militar. O conceito de assimetria — onde pequenas forças podem gerar grandes impactos — não pertence mais apenas à literatura de defesa. Está cada vez mais presente no mundo corporativo, nas cadeias de suprimentos, na segurança cibernética e na resiliência organizacional.
Ainda estamos, segundo Rosenbach, numa etapa em que essas armas exigem controle humano direto. Mas a convergência entre drones e inteligência artificial aponta para um futuro em que dispositivos autônomos farão identificação, seleção e destruição de alvos sem qualquer intervenção humana. Nesse cenário, o alcance físico — antes um fator limitante — praticamente desaparece. O impacto? Qualquer infraestrutura, seja uma base militar, um porto estratégico ou mesmo uma instalação de energia, pode se tornar vulnerável a ataques de difícil rastreabilidade, baixo custo e execução descentralizada.
Seja como for, Rosenbach alerta: “De uma perspectiva geopolítica, acho que isso deixa claro que um acordo de paz está longe de ser concretizado no futuro. Tenho certeza de que a resposta russa será muito dura. A maneira como Putin e os russos sempre reagiram a algo assim foi com uma resposta esmagadora de força. Então, isso será lamentável. Provavelmente será um dos piores ataques que já vimos contra a Ucrânia, do ponto de vista tecnológico.”