A empresa de biotecnologia Colossal, com sede nos Estados Unidos, anunciou um feito inovador: a criação de camundongos geneticamente modificados com pelos semelhantes aos dos mamutes-lanosos que desapareceram há quatro mil anos. O avanço representa um passo significativo no ambicioso projeto de “ressuscitar” espécies extintas. Ao trazer esses animais “de volta à vida”, a empresa busca restaurar o equilíbrio ambiental, combatendo o aquecimento global.
O mamute-lanoso, que habitou as frias regiões do Ártico, desempenhava um papel crucial no ecossistema, ajudando a manter o equilíbrio do solo e a controlar a liberação de dióxido de carbono. O objetivo da pesquisa é chegar a uma versão modificada do animal e usar suas características para conter liberação de dióxido de carbono, gás do efeito estufa. Com essa proposta, a empresa vem arrecadando bilhões de dólares desde sua criação. Hoje, as avaliações de mercado indicam que a Colossal vale aproximadamente US$ 10 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões).
Os camundongos lanosos

Os cientistas da Colossal compararam genomas de mamutes e seus parentes vivos, identificando as variantes genéticas responsáveis pelas características únicas dos mamutes. Em particular, eles se concentraram em genes relacionados ao comprimento, espessura, textura e cor do pelo, bem como ao metabolismo da gordura. O resultado foi o nascimento de camundongos com pelos longos e ondulados, semelhantes aos dos mamutes, e com um metabolismo de gordura acelerado, características que teriam ajudado os mamutes a sobreviver à última era glacial.
No entanto, especialistas em sequenciamento genético explicam que ainda é cedo para afirmar que este é um primeiro passo concreto ou até que os camundongos tenham alguma semelhança real com os mamutes. Por exemplo, o artigo que descreve a pesquisa ainda não foi publicado nem revisado por pares. Alguns pesquisadores mais céticos de que esse seja mesmo um passo que aproxima a empresa de uma versão modificada de um mamute destacam que a empresa previa recriar os animais com alterações que os tornariam resistentes ao frio. Porém, na pesquisa publicada para o anúncio, esse ponto não foi abordado. Ou seja, ainda não há evidências de que a pelagem modificada tenha, de fato, essa função. Outro argumento é que os camundongos têm apenas alguns meses de idade, e os pesquisadores não tiveram tempo suficiente para investigar como as mutações podem afetar sua saúde a longo prazo, incluindo sua fertilidade e predisposição a câncer.
“Do jeito que está, temos alguns camundongos peludos e fofos, sem nenhuma compreensão de sua fisiologia, comportamento, etc. Isso não os deixa mais perto de saber se eles eventualmente seriam capazes de dar a um elefante características úteis de mamute, e aprendemos pouco sobre biologia”, comentou Robin Lovell-Badge, chefe do Laboratório de Biologia de Células-Tronco e Genética do Desenvolvimento do Instituto Francis Crick, em Londres, à imprensa internacional.
Ao longo de cinco rodadas de experimentos, os cientistas produziram quase 250 embriões modificados. Menos da metade deles se desenvolveu em embriões maiores e mais viáveis, de 200 a 300 células, que foram então implantados no útero de cerca de uma dúzia de fêmeas substitutas. O resultado foi o nascimento de 38 filhotes de camundongo. Todos eles expressaram com sucesso o pelo dourado e lanoso do mamute, bem como seu metabolismo lipídico acelerado. A empresa diz que esse foi apenas um dos passos e que serão feitas mais pesquisas. Apesar disso, aponta que está a caminho de introduzir os primeiros bezerros de mamute lanoso em 2028.