Um novo relatório de um programa da Universidade de Yale que te como objetivo produzir ciência para apoiar a tomada de decisões sobre gestão do solo, o Yale Applied Science Synthesis Program, e do Environmental Defense Fund, organização não-governamental global que atua na defesa do meio ambiente, propõe formas práticas de gerar evidências mais sólidas para garantir que os benefícios da agricultura de carbono no solo sejam reais e eficazes na mitigação das mudanças climáticas.
Estima-se que a captura de carbono no solo por meio de práticas agrícolas sustentáveis possa remover até 5 bilhões de toneladas métricas de CO2 por ano até 2050, o equivalente a aproximadamente 10% das emissões globais anuais. No entanto, apesar desse potencial, a agricultura de carbono ainda tem pouca representatividade no mercado de créditos de carbono devido à falta de padrões, regulamentação e medições escaláveis. O relatório “Agricultural Soil Carbon: A Call for Improved Evidence of Climate Mitigation” destaca a necessidade de aprimorar os processos de Medição, Monitoramento, Relatório e Verificação (MMRV) para aumentar a confiança nos benefícios reais dessas práticas.
O sequestro de carbono refere-se ao processo de capturar e armazenar dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera para reduzir sua concentração e mitigar as mudanças climáticas. Esse processo pode ocorrer naturalmente, como quando as plantas absorvem CO₂ durante a fotossíntese e o armazenam no solo, ou pode ser feito artificialmente por meio de tecnologias específicas. Práticas agrícolas como plantio direto, rotação de culturas e uso de cobertura vegetal ajudam a remover CO₂ da atmosfera e a mantê-lo preso no solo, contribuindo para reduzir o impacto das emissões de gases de efeito estufa.
Mark Bradford, professor da Yale School of the Environment e diretor do Yale Applied Science Synthesis Program, e Emily Oldfield, cientista sênior do Environmental Defense Fund e pesquisadora da Yale, explicam que a falta de dados robustos compromete a credibilidade da agricultura de carbono. Segundo Bradford, ainda não há evidências suficientes para avaliar rigorosamente sua eficácia como estratégia de mitigação climática. O relatório sugere formas de preencher essa lacuna e destaca que os métodos propostos podem ter implicações não apenas para o sequestro de carbono, mas também para melhorar a saúde do solo, a segurança alimentar e a resiliência das florestas.
A confiabilidade da captura de carbono no solo é um tema controverso, pois há divergências sobre sua real capacidade de mitigação. Em vez de entrar nesse debate, Bradford e Oldfield decidiram focar na necessidade de um padrão elevado de evidências para avaliar o impacto das intervenções agrícolas. Uma analogia usada por Bradford ilustra bem essa necessidade: comparar pequenos experimentos agrícolas a testes laboratoriais em ratos e destacar a importância de estudos em larga escala, assim como os testes clínicos em humanos são fundamentais para validar vacinas.
Um dos principais desafios na comprovação dos benefícios do sequestro de carbono no solo é a reversibilidade desse processo. O carbono armazenado pode ser liberado novamente por mudanças no manejo agrícola, eventos climáticos extremos ou alterações no uso da terra. O aprimoramento do MMRV pode ajudar a estabelecer expectativas mais realistas sobre a quantidade de carbono que pode ser sequestrada, o tempo necessário para obter resultados e os impactos de práticas como plantio direto e cobertura vegetal.
Entretanto, expandir a MMRV enfrenta obstáculos, sendo o financiamento um deles. Mas, para Bradford, a maior barreira é uma crença profundamente enraizada na comunidade científica de que a medição do carbono no solo é inviável devido à sua alta variabilidade e mudanças lentas. Trabalhando em um ambiente multidisciplinar, ele percebeu que desafios semelhantes existem em outras áreas, como ciências da saúde, e que métodos quantitativos podem ser adaptados para a agricultura.
Como solução, o relatório propõe um modelo cooperativo entre governos, setor privado e academia para gerar os dados necessários e validar abordagens de mercado e não mercado para o sequestro de carbono. Bradford menciona que, no início do século XX, empresas como a Guinness cofinanciavam pesquisas agrícolas em larga escala que resultavam em benefícios econômicos para todos os envolvidos. Oldfield acrescenta que sua equipe no EDF já trabalha para acelerar esse tipo de cooperação, adotando uma abordagem regional e envolvendo stakeholders como empresas alimentícias, startups de tecnologia agrícola, pesquisadores acadêmicos e órgãos governamentais.