Um artigo publicado recentemente pela Universidade de Oxford propõe uma nova forma de entender comportamentos negativos entre alunos, especialmente em contextos de necessidades educacionais especiais e deficiência. A principal autora, Dra. Julia Badger, cunhou o termo “contraconexão” para descrever situações que se assemelham ao bullying, mas que envolvem motivações e dinâmicas distintas. Professora do Departamento de Desenvolvimento Infantil e Educação da Universidade de Oxford, Badger destaca que ainda não existe uma definição padronizada ou universalmente aceita para o bullying escolar. Segundo ela, as classificações mais comuns deixam de fora as experiências de muitos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) e deficiências, o que pode resultar na má interpretação de comportamentos e na ausência de apoio adequado.
A definição de “contraconexão” surgiu após consultas com professores de escolas especiais e pais de alunos com NEE. O conceito se refere a situações em que uma criança tenta se conectar com outra pessoa ou com suas próprias emoções, mas acaba, por falta de habilidades sociais ou autorregulação, atingindo negativamente o outro. “Há uma vítima, mas não um agressor”, afirma a pesquisadora. “Não é bullying — é uma conexão que deu errado. Mas ainda precisa ser reconhecida e tratada.”
A proposta do artigo é que escolas, tanto regulares quanto especiais, adotem duas definições distintas: uma para o bullying tradicional e outra para a contraconexão. A medida visa oferecer estratégias mais eficazes de intervenção e apoio, evitando confusões que podem gerar estigmas, prolongar situações negativas e comprometer a saúde mental dos alunos. “Quando não identificadas corretamente, essas situações podem ser mal gerenciadas, o que agrava o impacto emocional e dificulta a resolução”, alerta Badger. Ela ressalta que definições precisas ajudam tanto vítimas quanto agressores a compreender suas ações, incentivam a intervenção de testemunhas e promovem ambientes escolares mais seguros e inclusivos.
A equipe liderada por Badger está iniciando a implementação de um programa piloto no Reino Unido, chamado KiVa-SEND, que utilizará as novas definições no enfrentamento ao bullying em escolas especiais. Este será o primeiro programa do tipo a incorporar a distinção entre bullying e contraconexão. O artigo completo, intitulado “Bullying ou contraconexão? Duas definições inclusivas para escolas”, está disponível para leitura pública e foi escrito por Julia R. Badger, Atiyya Nisar, Nicolette W.T. Lee e Katerina Romanova.