O ambicioso projeto futurista da Arábia Saudita, conhecido como NEOM, enfrenta desafios significativos, com atrasos, estouro de orçamento e controvérsias envolvendo direitos humanos. Concebido para diversificar a economia saudita e reduzir a dependência do petróleo, o projeto tem sido marcado por obstáculos técnicos e financeiros. A primeira fase denominada Sindalah – uma ilha de luxo no Mar Vermelho destinada ao turismo premium -, inicialmente orçada em US$ 1,3 bilhão, já ultrapassou os US$ 4 bilhões. Além disso, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, idealizador do projeto, esteve ausente em eventos recentes relacionados ao NEOM, e o CEO Nadhmi al-Nasr foi substituído, levantando dúvidas sobre a estabilidade na liderança do empreendimento.
The Line e Suas Ambições
Uma das iniciativas mais ousadas dentro do NEOM é The Line, uma cidade linear planejada inicialmente para se estender por 170 quilômetros, abrigando cerca de 9 milhões de pessoas. A estrutura seria composta por dois arranha-céus paralelos revestidos de espelhos, com 500 metros de altura cada. No entanto, desafios técnicos e financeiros forçaram a revisão do projeto: o comprimento foi reduzido para 2,4 quilômetros e a conclusão da primeira seção, prevista para 2034, foi adiada. Segundo o Azernews, as despesas de capital projetadas dispararam para US$ 8,8 trilhões, valor 25 vezes maior que o orçamento anual do reino saudita.
Tecnologias Futuristas e Controvérsias
O projeto NEOM também inclui propostas futuristas como táxis voadores, cidades flutuantes e infraestrutura de emissão zero, com o objetivo de posicionar a região como um centro global de inovação e turismo. No entanto, essas ambições têm sido acompanhadas de sérias controvérsias. Em maio de 2024, uma reportagem da BBC revelou que forças sauditas receberam ‘licença para matar’ durante desapropriações para a construção de NEOM. O coronel Rabih Alenezi, que se afastou do projeto e agora vive no Reino Unido, afirmou ter recebido ordens para despejar moradores de um povoado, resultando na morte de Abdul Rahim al-Huwaiti, que se recusou a deixar sua residência.
Paralelos com Ficção Científica e ao Redor do Mundo
As controvérsias e a visão futurista de NEOM evocam comparações com o filme Elysium (2013), onde uma elite vive em uma estação espacial luxuosa, enquanto a maioria da população permanece em uma Terra devastada, ressaltando as disparidades sociais e os desafios éticos envolvidos em projetos dessa magnitude. Mas na vida real, ainda que a escalada de custos, os atrasos e as controvérsias relacionadas aos direitos humanos levantem questões sobre a viabilidade e a sustentabilidade do NEOM, a aposta em cidades futuristas não é exclusividade da Arábia Saudita. Estados Unidos e Europa também já possuem projetos semelhantes.
Telosa, dos EUA, foi idealizada pelo bilionário Marc Lore. É uma proposta de cidade sustentável a ser construída do zero em uma região desértica dos Estados Unidos. O projeto visa abrigar 5 milhões de residentes nos próximos 40 anos, oferecendo igualdade de oportunidades e infraestrutura de ponta. Telosa promete ser a cidade mais sustentável do mundo, com energia 100% renovável e um sistema de transporte inovador. Na Espanha, Elysium City (sim, o mesmo nome do filme de 2013) foi planejada para ser a primeira cidade inteligente da Europa. A cidade será construída em Castilblanco, na província de Badajoz. O projeto inclui um parque temático de grande porte, infraestrutura de rua inteligente alimentada por energia solar e sistemas de mobilidade avançados. A cidade pretende atrair turistas e se tornar um modelo de sustentabilidade e inovação.