Para causar impacto com um novo produto ou tecnologia, é preciso lançá-lo no mercado, implementá-lo e torná-lo popular. Mas a jornada da comercialização nem sempre é tão simples. O mundo está cheio de boas ideias e novas invenções são criadas a todo momento, mas nem todas encontram patrocinadores e empresas interessadas em investir o tempo e recursos necessários para chegar ao mercado.
Até mesmo as invenções respaldadas em pesquisas e estudos das universidades mais conceituadas do mundo enfrentam essa dificuldade. Afinal, os engenheiros estão focados nas questões técnicas realmente complexas que precisam superar, e não costumam pensar em tudo o que precisa ser resolvido para que algo chegue ao mercado e, de fato, possa ser útil à humanidade. É o que aponta a vice-reitora de inovação e empreendedorismo da Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade da Pensilvânia, Vanessa Chan. Ela chama a atenção para o fato de que 97% das inovações patenteadas não conseguem ultrapassar o “muro da comercialização”.
“Apenas 3% das patentes são aprovadas, e um dos maiores desafios é que não estamos treinando nossos doutores, nossos alunos de graduação e nossos professores para comercializar tecnologias”, afirma a vice-reitora. Durante uma palestra do Departamento de Ciência e Engenharia de Materiais (DMSE) para alunos do MIT, ela destacou como as inovações poderiam solucionar desafios importantes, desde a sustentabilidade energética até a prestação de serviços de saúde. Por exemplo, compósitos de fibra de carbono substituíram o alumínio no setor aéreo, resultando em menor consumo de combustível, menores emissões e maior segurança. Baterias modernas de íons de lítio e de estado sólido utilizam materiais de eletrodo otimizados para maior eficiência e carregamento mais rápido. E stents de polímero biodegradáveis, que se dissolvem com o tempo, substituíram os stents metálicos tradicionais que permanecem nas artérias e podem causar complicações.
Inventar uma tecnologia inovadora é apenas o começo, disse Chan. Ela deu o exemplo de Thomas Edison, frequentemente considerado o pai da lâmpada elétrica. “Thomas Edison foi o pai da lâmpada incandescente”, disse Chan, mas observou que ele não inventou o filamento carbonizado. “Ele pegou as patentes de (Joseph) Swan e pensou: Como podemos fabricar isso em escala?”
Além da tecnologia
Para que uma invenção tenha impacto, ela precisa percorrer com sucesso a jornada de comercialização, da pesquisa ao desenvolvimento, demonstração e implantação no mercado. E os engenheiros podem aumentar suas chances na comercialização se conhecerem a linguagem correta. Pensando nisso, em seu Escritório de Transições Tecnológicas, Chan desenvolveu um estudo sobre os “Níveis de prontidão para adoção”, que ajudam a avaliar os riscos não técnicos que as tecnologias enfrentam em sua jornada para a comercialização; e o estudo “Caminhos para o lançamento comercial”, um roteiro para preencher a lacuna entre inovação e adoção comercial, ajudando a identificar requisitos de escala, principais participantes e níveis de risco aceitáveis para adoção antecipada. Esses riscos abrangem a proposta de valor — se uma tecnologia pode ter um desempenho a um preço que os clientes estão dispostos a pagar — a aceitação do mercado e outras barreiras potenciais, como infraestrutura e regulamentações.
“Uma invenção sem implantação é uma tragédia, porque você inventa algo que pode ter muitas publicações em papel, mas que não faz diferença alguma no mundo real.” A comercialização de materiais é difícil, explicou Chan, porque novos materiais estão no início de uma cadeia de valor — a gama completa de atividades na produção de um produto ou serviço. Para chegar ao mercado, a invenção do material precisa ser adotada por outros ao longo da cadeia e, em alguns casos, as empresas precisam definir como cada parte da cadeia é remunerada. Um novo material para próteses de quadril, por exemplo, projetado para reduzir o risco de infecção e re-hospitalização, pode ser um avanço em termos de materiais, mas colocá-lo no mercado é complicado devido à forma como os seguros funcionam. “Eles não pagarão mais para evitar a hospitalização”, disse Chan. “Se o seu material for mais caro do que o que está sendo usado atualmente, os fornecedores não reembolsarão isso.”