O iPhone que você usa, a sua cadeira de couro sintético favorita e até mesmo a camisa que você veste possuem produtos químicos em sua constituição. E não são poucos. São necessários milhares de produtos químicos para produzir roupas, utensílios e outros objetos que usamos todos os dias, e o problema é que alguns deles podem ser prejudiciais à sua saúde e à do planeta.
Pensando nisso, a ChemFORWARD, uma organização não-governamental que reúne avaliações de riscos químicos, está tentando tornar os objetos mais seguros a partir da criação de um banco de dados de produtos químicos industriais e seus efeitos na saúde humana e ambiental. A química Heather McKenney, líder em ciência da ChemFORWARD, foi acompanhada por especialistas da Kennedy School e por David Bourne, estrategista-chefe de sustentabilidade do Google, em um painel na Malkin Penthouse da Havard Kennedy School para discutir o trabalho da empresa e os desafios que o setor privado enfrenta ao tentar reduzir os riscos químicos. “Eles estão presentes nas roupas que vestimos, no que comemos e bebemos, nos móveis de nossas casas e até mesmo nos produtos de saúde que compramos. Portanto, focar no que a sociedade pode fazer para garantir a proteção da saúde pública neste mundo com uso intenso de produtos químicos é especialmente importante”, disse Henry Lee, Jassim M. Jaidah Family Director do Programa de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Kennedy School e palestrante sênior em Políticas Públicas.
A ChemFORWARD, sediada em Washington DC, compila e mantém um repositório digital de “avaliações verificadas de riscos químicos” disponíveis para assinantes corporativos para que tomem decisões informadas e ambientalmente corretas sobre os produtos químicos usados em suas cadeias de suprimentos. “Não há exigência em todos os setores de que todos os produtos químicos sejam examinados antes do uso”, afirma a química McKenney, que foi líder da equipe de toxicologia e segurança de produtos na Honest Company, fabricante de produtos de beleza e bebês, por seis anos. No entanto, ela lembra que há empresas bem-intencionadas que querem certificar seus produtos como seguros, mas têm dificuldade em monitorar todos os produtos químicos usados em sua cadeia de suprimentos e quais são os impactos desses produtos químicos.
“Há toneladas de dados toxicológicos por aí, e como começamos a aplicar e compartilhar essas informações de modo que elas não fiquem isoladas em um dossiê da União Europeia ou em uma organização individual que desenvolveu esses dados?”, ela disse, referindo-se ao regulamento de Registro, Avaliação, Autorização e Restrição de Produtos Químicos da UE. “Desenvolvemos uma metodologia que abriga as avaliações de risco químico em mais de 24 endpoints de saúde humana e ambiental.”
No lado humano, o ChemFORWARD avalia o potencial cancerígeno, toxicidade reprodutiva, mutação genética, irritação da pele, irritação dos olhos e neurotoxicidade de um produto químico, entre outras coisas. No lado ambiental, eles medem coisas como persistência ou a capacidade dos produtos químicos de se decompor. “Analisando a totalidade dos dados, pegamos a totalidade dos riscos e enviamos uma classificação geral de riscos, ou o que chamamos de nossas faixas de risco”, disse McKenney. As faixas de risco do ChemFORWARD se enquadram em classificações alfabéticas (A, B, C, etc.), mas também são categorizadas com base na quantidade de dados disponíveis sobre uma determinada substância. Há produtos químicos marcados com um ponto de interrogação quando os dados são considerados insuficientes.
Bourne disse que “o que percebemos em parceria com a ChemFORWARD é que toda vez que fazemos uma avaliação de risco químico, não é apenas informação proprietária do Google ou de quem fez a avaliação. Agora está disponível para qualquer um que queira tentar a plataforma. E então a escalabilidade que isso cria é realmente o que vimos como transformador”. E continua: “a analogia que eu gosto de dar é que se você quisesse assistir a um ótimo programa de TV e tivesse que pagar um estúdio de Hollywood para fazer um programa só para você, isso custaria uma quantia absurda de dinheiro. Como eles têm muitos assinantes em uma plataforma de streaming, todos podem contribuir e ter acesso a todo um corpo de conteúdo que é valioso.”
Charles Taylor, professor assistente de políticas públicas na Harvard Kennedy School, disse que esse tipo de coleta de informações pode ter benefícios importantes além do setor privado. “É realmente importante para chegar aos pesquisadores e outros que podem ser alguns dos guardiões para avaliar se vemos efeitos crônicos ou efeitos posteriores”. Uma prática que deveria ser adotada por todas as empresas fabricantes do mundo que se preocupam com o bem estar das pessoas e do planeta.