Atualmente, todos os meses do ano possuem cores específicas associadas a campanhas de conscientização propostas por ONGs, associações médicas e representantes da sociedade civil. O mês de março é marcado pela roxa e é dedicado à conscientização sobre a epilepsia, uma doença neurológica que só no Brasil afeta cerca de 2 milhões de pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde. Em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 50 milhões sofrem com a doença e cerca de 30% dos pacientes não respondem bem aos medicamentos tradicionais, tornando a busca por novos métodos de diagnóstico e tratamento essencial. Mas duas novas descobertas divulgadas hoje (21) prometem avanços contra a doença.
Pesquisadores da Universidade de Cambridge, em colaboração com estudiosos da Université Paris-Saclay, fizeram pela primeira vez uma cirurgia transformadora para adultos com epilepsia. Eles desenvolveram uma técnica inovadora que utiliza scanners de ressonância magnética para identificar pequenas lesões cerebrais em pacientes com epilepsia resistente a medicamentos. O estudo sugere que, com esse diagnóstico de alta precisão, mais pacientes podem ser encaminhados para a cirurgia, considerada uma alternativa curativa para muitos casos.
Historicamente, ressonâncias magnéticas de alta potência enfrentavam dificuldades devido às “zonas negras” nas imagens, especialmente nas regiões temporais do cérebro, onde a epilepsia frequentemente se origina. A nova abordagem resolve esse problema ao empregar oito transmissores ao redor da cabeça, em vez de um único, reduzindo significativamente essas falhas e proporcionando imagens mais nítidas. No estudo testado com 31 pacientes, a técnica identificou lesões que haviam passado despercebidas nos exames tradicionais em nove deles. Como resultado, 58% dos participantes tiveram seus planos de tratamento ajustados, incluindo a possibilidade de cirurgia. A intervenção pode representar a cura definitiva, eliminando as crises e permitindo uma vida livre da dependência de medicamentos.
“Ter epilepsia que não responde a medicamentos anticonvulsivantes pode ter um grande impacto na vida dos pacientes, muitas vezes afetando sua independência e sua capacidade de manter um emprego. Sabemos que podemos curar muitos desses pacientes, mas isso requer que sejamos capazes de identificar exatamente onde no cérebro está a raiz de suas convulsões”, afirmou o Dr. Thomas Cope do Departamento de Neurociências Clínicas da Universidade.
A cura de Amanda
Amanda Bradbury foi diagnosticada pelos Médicos do Addenbrooke’s Hospital, Cambridge com epilepsia focal aos 19 anos e tinha convulsões frequentemente. Ela recebeu medicamentos para controlar sua condição, mas, apesar de tentar três marcas diferentes, os remédios só minimizavam um pouco os sintomas. Foi quando os médicos sugeriram cirurgia.
A lesão de Amanda era grande o suficiente para ser visível em scanners de ressonância magnética 3T (para muitos pacientes, as lesões não são claramente visíveis nesses scanners, que é onde os scanners de ressonância magnética 7T de campo ultra-alto podem ajudar). A lesão estava na amígdala, e como a equipe de Cambridge conseguiu localizar a lesão, os cirurgiões puderam removê-la. Logo após a cirurgia, Amanda começou a se sentir diferente, menos cansada, com mais energia e menos ansiosa. Também passou a conseguir se concentrar mais e a manter o foco. E o melhor, agora vive sem as convulsões e quer dar continuidade aos estudos que acabou interrompendo por conta da doença.
Inteligência artificial na busca por falhas invisíveis
Outra boa notícia vem do King’s College London que apostou na inteligência artificial (IA) para aprimorar a detecção de anomalias que podem estar por trás da epilepsia. Pesquisadores da instituição desenvolveram uma ferramenta baseada em IA capaz de identificar pequenas falhas no cérebro que, muitas vezes, passam despercebidas em exames convencionais. A nova tecnologia analisa imagens de ressonância magnética e aprende a reconhecer padrões cerebrais associados à epilepsia.
Muitas vezes, pacientes com epilepsia enfrentam uma longa jornada até o tratamento adequado, pois as causas da doença podem ser difíceis de identificar. Com a inteligência artificial, será possível localizar com precisão as regiões cerebrais que desencadeiam as crises epilépticas, permitindo intervenções mais eficazes e personalizadas. A expectativa agora é que as inovações sejam incorporadas ao dia a dia da medicina, trazendo não só mais precisão no diagnóstico, como a possível cura por meio de cirurgia para todos os pacientes.