O câncer de pâncreas é uma das doenças mais desafiadoras da medicina atual. Apenas cerca de 10% dos pacientes sobrevivem cinco anos após o diagnóstico, mesmo com as combinações de cirurgia, quimioterapia e radioterapia usadas hoje. Imunoterapias — tratamentos que estimulam o sistema imunológico a combater o câncer — têm tido pouco efeito nesse tipo de tumor. Mas uma nova descoberta pode mudar esse cenário.
Pesquisadores do MIT e do Instituto de Câncer Dana-Farber encontraram um novo ponto fraco nesse tipo de câncer: pequenas moléculas chamadas peptídeos crípticos, que aparecem apenas nas células tumorais. Esses peptídeos não são encontrados no DNA que normalmente gera proteínas no corpo. Por isso, por muito tempo foram ignorados. Mas agora, com tecnologias mais modernas, cientistas descobriram que eles são mais comuns do que se pensava — e podem ser explorados para criar tratamentos muito mais precisos.
“Quando começamos a obter os dados, ficou claro que essa era de longe a nova classe de antígenos mais abundante, e foi nisso que acabamos nos concentrando”, diz Zackery Ely, um dos autores principais do estudo. Esses peptídeos funcionam como uma espécie de “assinatura” das células cancerígenas. Ao analisarem tecidos de pacientes com câncer de pâncreas, os cientistas identificaram cerca de 1.700 peptídeos crípticos diferentes, e descobriram que cerca de 500 deles só estavam presentes nos tumores — e não em tecidos saudáveis. Isso abre caminho para o desenvolvimento de imunoterapias muito mais seguras e direcionadas.
Um dos caminhos mais promissores é “treinar” as células T, um tipo de célula do sistema imunológico responsável por identificar e atacar ameaças no corpo. No estudo, os pesquisadores conseguiram modificar células T em laboratório para reconhecer alguns desses peptídeos crípticos. Quando colocadas em contato com organoides — miniaturas de tumores cultivadas a partir de células de pacientes — essas células T destruíram as células cancerígenas e retardaram significativamente o crescimento dos tumores em camundongos.
Esta é a primeira vez que alguém demonstra o uso de células T direcionadas a peptídeos crípticos para matar células tumorais pancreáticas. Embora os tumores não tenham sido completamente erradicados, os resultados são promissores, e é possível que o poder de matar das células T possa ser fortalecido em trabalhos futuros, afirmam os pesquisadores. Os cientistas também estão estudando a possibilidade de criar uma vacina experimental baseada nesses peptídeos. A ideia é usar uma combinação dos antígenos identificados para ensinar o sistema imunológico do próprio paciente a reconhecer e combater as células do câncer de pâncreas. Além disso, outras abordagens, como anticorpos especiais que aproximam células T das células tumorais, também estão sendo exploradas.
Ainda serão necessários alguns anos até que essas terapias possam ser testadas amplamente em humanos, mas os resultados trazem uma nova esperança. Para um tipo de câncer tão resistente quanto o pancreático, qualquer avanço real pode representar uma revolução no tratamento — e salvar muitas vidas no futuro. O estudo foi publicado na revista científica Science e recebeu apoio de instituições como a Lustgarten Foundation, o Stand Up To Cancer e os National Institutes of Health (NIH).