O lixo eletrônico é um problema global. Segundo a ONU, o mundo gera mais de 50 milhões de toneladas por ano de lixo eletrônico – e apenas 17% são reciclados corretamente. O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países que mais produzem lixo eletrônico no planeta, com impressionantes 2,4 milhões de toneladas anuais. E para agravar ainda mais este cenário, o descarte correto ainda não é uma realidade praticada em todos os lugares, e grande parte desse material acaba em aterros ou no lixo comum, contaminando o solo e desperdiçando recursos valiosos.
Mas muitos países já começaram a buscar soluções criativas e sustentáveis para o problema. Um exemplo vem da Austrália, que também enfrenta o desafio de lidar com resíduos eletrônicos. Por lá, cada cidadão produz cerca de 20 kg de e-lixo por ano. Porém, uma iniciativa inovadora quer transformar o problema em oportunidade.
MICROfábricas: do lixo eletrônico para impressoras 3D
Na cidade de Sydney, a Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW) em parceria com a empresa recicladora Renew IT acaba de inaugurar a primeira operação comercial da MICROfactorie de filamentos plásticos do mundo. Uma tecnologia, desenvolvida durante mais de uma década no Centro de Pesquisa e Tecnologia de Materiais Sustentáveis da UNSW, transforma plásticos rígidos de equipamentos eletrônicos antigos, como impressoras e computadores, em filamentos de alta qualidade usados na impressão 3D.
A operação já evitou que 50,4 toneladas de plástico fossem parar em aterros ou incineradores. E não é só o meio ambiente que sai ganhando: o projeto cria novos empregos, movimenta a economia local e contribui para fortalecer a produção. “Ao olhar para o lixo como um recurso, podemos criar valor econômico e social”, afirma a professora Veena Sahajwalla, diretora do Centro SMaRT e criadora da tecnologia. Segundo ela, a impressão 3D está cada vez mais presente em escolas, empresas e fábricas, e há um mercado enorme para esse tipo de filamento sustentável. Para se ter uma ideia, enquanto plásticos reciclados vendidos como pallets valem cerca de US$ 2 o quilo, o filamento para impressão 3D pode ser vendido a preços muito superiores — uma prova de que reciclagem inteligente também pode ser um negócio rentável.
Um caminho para o Brasil?
O projeto australiano mostra que é possível criar uma economia circular forte a partir de resíduos eletrônicos. Um caminho que o Brasil pode começar a trilhar. Além do impacto ambiental, há uma oportunidade econômica real: transformar parte dos 2,4 milhões de toneladas de lixo eletrônico que geramos em insumos valiosos para setores estratégicos como tecnologia, educação e indústria.