Um estudo recente publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences revelou que a poluição por microplásticos pode comprometer a produção agrícola mundial. Com menos de cinco milímetros de tamanho, esses resíduos se espalham por rios, oceanos e solos, afetando ecossistemas e a saúde humana. Já foram encontrados em praticamente todos os órgãos humanos, representando riscos ainda não totalmente compreendidos.
Os cientistas analisaram mais de 3.000 observações extraídas de 157 estudos anteriores. O levantamento, conduzido por pesquisadores da China, Alemanha e Estados Unidos, concluiu que os microplásticos prejudicam a fotossíntese, reduzindo a eficiência desse processo em 7% a 12% em três tipos de plantas. Houve também uma queda significativa na produção de clorofila.
Essa interferência resultou em perdas globais de safra entre 4% e 14% para culturas de milho, trigo e arroz. A Ásia foi a mais afetada, com perdas anuais entre 54 milhões e 177 milhões de toneladas. A Europa também enfrentou grandes perdas no cultivo de trigo, enquanto os Estados Unidos foram impactados na produção de milho. América do Sul e África, com menor cultivo dessas culturas, possuem poucos dados sobre a contaminação por microplásticos, mas não estão imunes ao problema. Além disso, estima-se que os microplásticos causem até 7% de perda na produtividade primária líquida aquática global. O professor Denis Murphy, da Universidade de South Wales, destacou que “a análise é valiosa e oportuna para nos lembrar dos perigos potenciais da poluição por microplásticos e da urgência de abordar a questão”, mas alertou que alguns números exigem mais estudos antes de serem considerados previsões definitivas.
Contaminação de camarões no Brasil
No Brasil, a poluição por microplásticos também atinge o setor pesqueiro. Um estudo preliminar da Universidade Estadual Paulista (Unesp), apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), revelou que 90% dos camarões do litoral paulista estão contaminados com as pequenas partículas. A pesquisa, iniciada em 2023, busca avaliar riscos ecológicos e impactos na saúde humana.
O estudo, realizado no âmbito do Programa Biota, concentra-se na Baixada Santista – região industrial, portuária e pesqueira – e em Cananeia, uma área com menor intervenção humana. Os camarões coletados, especialmente o camarão-de-sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri), apresentaram microplásticos no trato gastrointestinal. A pesquisa também avalia outros crustáceos, como siris, lagostas, lagostins e caranguejos, considerando ciclos de vida, reprodução, organização populacional e evolução.
A presença desses resíduos coloca em risco a saúde de quem consome frutos do mar e ameaça o equilíbrio dos ecossistemas marinhos. A pesquisadora do projeto, Daphine Ferrera, explica que o próximo passo é identificar se essa presença impacta também a qualidade nutricional dos crustáceos. “A análise buscará saber se esses microplásticos estão se acumulando em outros tecidos, como na musculatura, que é justamente a parte mais consumida pelos humanos”.