A ideia de que a água surgiu na Terra trazida por cometas e asteroides pode estar prestes a mudar. Novas evidências obtidas por pesquisadores da Universidade de Oxford, por meio de uma técnica avançada de espectroscopia, sugerem que esse modelo — defendido por décadas — talvez não explique toda a história da formação da água em nosso planeta. A técnica usada é conhecida como espectroscopia de absorção de raios X, ou XANES (na sigla em inglês). Por meio dela, cientistas conseguem identificar os elementos químicos presentes em uma amostra e determinar em que forma eles se encontram. Ao projetar raios X sobre o material, os átomos absorvem energia de maneira específica, dependendo do elemento, do estado químico em que se encontra — como óxidos ou sulfetos — e de como está ligado a outros átomos ao redor.
Um novo olhar sobre materiais antigos
Com o uso da XANES, os pesquisadores analisaram amostras de condritos carbonáceos, um tipo de meteorito considerado extremamente primitivo. Esses corpos celestes são, em teoria, remanescentes do início do sistema solar e, por isso, servem como “cápsulas do tempo” para os cientistas estudarem as condições que deram origem aos planetas. A análise revelou que a quantidade de água contida nesses meteoritos pode ter sido superestimada. Além disso, o tipo de ligação química observado nos minerais sugere que eles não são tão ricos em elementos voláteis quanto se imaginava. Ou seja: talvez esses corpos não tenham contribuído tanto quanto se pensava para o fornecimento de água à Terra.
Desafios à teoria dominante
Durante muito tempo, acreditou-se que o bombardeio de cometas e asteroides, por volta de 4 bilhões de anos atrás, teria sido responsável por trazer grande parte da água que hoje cobre mais de 70% da superfície do planeta. Mas se esses objetos não tinham tanta água assim, de onde teria vindo? A nova evidência reforça uma hipótese alternativa: a de que parte significativa da água já estava presente nos materiais que formaram o planeta, presos em minerais hidratados ainda no interior da jovem Terra. Com o calor gerado durante a formação do núcleo e o intenso vulcanismo nos primeiros bilhões de anos, essa água teria sido liberada na forma de vapor, acumulando-se gradualmente na atmosfera e, mais tarde, condensando-se para formar os oceanos.
Implicações para a ciência planetária
A descoberta tem implicações importantes não apenas para a compreensão da história da Terra, mas também para o estudo de outros planetas e luas do sistema solar. Se a água pode surgir a partir dos próprios processos internos de formação planetária, talvez corpos como Marte ou as luas geladas de Júpiter e Saturno tenham tido — ou ainda tenham — mais água do que se imagina. Enquanto os cientistas seguem aprofundando as análises, uma coisa é certa: a origem da água na Terra continua sendo uma das questões mais fascinantes e fundamentais da ciência planetária. E agora, parece que estamos um passo mais perto de entender esse mistério.