O estresse é uma reação natural do organismo a situações de ameaça ou perigo. Mas em excesso pode desencadear quadros de ansiedade, depressão, problemas cardíacos, de pele e gastrointestinais. Permanecer estressado por um período prolongado pode fazer mal tanto para os humanos quanto para os animais. Certo? Nem sempre. Um estudo da Universidade da Califórnia, Los Angeles, que também conta com a participação de professores de outras instituições como a Universidade do Michigan, sugere que, pelo menos para os animais, o estresse pode ser positivo e contribuir para garantir a sobrevivência da espécie.
O Projeto Macaco Lomas Barbudai (dirigido pela coautora Susan Perry, da UCLA) estuda essa população desde 1990. Os pesquisadores mediram os níveis hormonais em macacos-prego para decodificar como a resposta ao estresse ajuda esses animais a enfrentar os desafios ambientais. De 2014 a 2016, um evento El Niño severo desencadeou uma seca na América Central e do Sul, levando a uma mortalidade sem precedentes em uma população de macacos-prego de cara branca no noroeste da Costa Rica. Embora a seca tenha sido devastadora para o projeto de pesquisa de longo prazo, ela também serviu como um experimento natural, permitindo que os pesquisadores comparassem a fisiologia do estresse dos macacos sobreviventes com a daqueles que morreram.
As descobertas divulgadas na Revista Science Advances, publicada pela American Association for the Advancement of Science (AAAS), indicam que os macacos que exibiram uma reação de estresse mais intensa, com um aumento notável nos hormônios do estresse, durante secas passadas eram mais propensos a suportar as condições severas do El Niño do que aqueles com respostas mais brandas. Esse resultado se manteve mesmo após levar em conta outros fatores que influenciam os níveis hormonais.
A maioria das pesquisas se concentra em como os hormônios do estresse afetam negativamente a saúde e a longevidade, mas como afirma Sofia Carrera, uma das primeiras autoras do estudo e pesquisadora de pós-doutorado na Northwestern University, afirma que “a resposta ao estresse evoluiu para nos ajudar a mobilizar a energia que precisamos para superar os desafios (pense nisso como a capacidade de correr de um predador)”. Jacinta Beehner, professora de psicologia e antropologia da Universidade do Michigan, uma das principais autoras do estudo, complementa: “estamos bem cientes do ‘desgaste’ que a resposta ao estresse causa em todos os nossos sistemas”. E lembra que esse desgaste produz os problemas de saúde que se acumulam nos humanos, como doenças cardíacas. No entanto, ela diz que esse é um resultado exclusivamente humano.
A resposta ao estresse em humanos não nos ajuda a escapar de “fatores de estresse modernos” como hipotecas, trânsito e insegurança no emprego. Os animais selvagens, por outro lado, enfrentam principalmente desafios em que uma resposta reativa ao estresse os ajuda a sobreviver melhor do que uma não reativa. Eles podem realocar seus recursos energéticos para escapar do predador ou sobreviver a uma seca. “Altos níveis de hormônios do estresse parecem promover (em vez de dificultar) a sobrevivência em condições desafiadoras quando os recursos alimentares são escassos”, disse Beehner.