Para entender como as viagens espaciais afetam não apenas os astronautas, mas também os organismos microscópicos que os acompanham, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Ohio estuda como bactérias patogênicas se comportam no espaço. Estão sendo analisadas amostras bacterianas que viajaram para a Estação Espacial Internacional (ISS) e voltaram. A bactéria em questão, Staphylococcus aureus, é um patógeno comum responsável por aproximadamente 15.000 mortes nos Estados Unidos a cada ano. Embora muitas vezes seja encontrada na pele humana e no nariz e atue de forma inofensiva, os primeiros resultados sugerem que a gravidade zero torna a bactéria potencialmente mais infecciosa.
“Nossos experimentos de acompanhamento usando microgravidade simulada na Terra apoiaram esses resultados, afirma o professor e presidente de pós-graduação Ronan Carrol. O estudo faz parte de um programa de Pesquisa Biológica da NASA, que permite aos cientistas estudar o comportamento microbiano no espaço. O primeiro conjunto de amostras de S. aureus foi lançado a bordo do SpaceX CRS-9 em 2016. Um segundo conjunto de amostras foi enviado à ISS em janeiro de 2024 na missão NG-20 Commercial Resupply Service (BRIC-25) e retornou à Terra pela SpaceX-30. “Com as últimas amostras devolvidas em 2024, esperamos investigar mais profundamente essa virulência aumentada e descobrir os mecanismos envolvidos”, diz o professor.
Processamento de alto risco
O principal desafio da análise é que as amostras são insubstituíveis se algo der errado. “Quando você recebe as amostras de volta, você só tem uma chance de analisá-las”, diz Carroll ao enfatizar que trata-se de um processamento de alto risco conduzido pela técnica de pesquisa Emily Sudnick. Protocolos de segurança exigem que bactérias patogênicas permaneçam seladas em recipientes para evitar contaminação a bordo da ISS. Condições experimentais limitadas, como ambientes de crescimento controlado e restrições de temperatura, adicionam mais complexidade.
O futuro da pesquisa em saúde espacial
Entender como as bactérias se adaptam aos ambientes espaciais é essencial para a segurança dos astronautas, particularmente em missões estendidas a Marte, onde as tripulações podem passar meses ou anos no espaço. Se comprovado que o S. aureus se torna mais virulento na microgravidade, isso pode representar um sério risco à saúde dos astronautas. Além das viagens espaciais, essas descobertas podem fornecer insights sobre o comportamento bacteriano em condições únicas, potencialmente levando a novas estratégias para gerenciar infecções na Terra.
“As bactérias são incrivelmente pequenas comparadas às células humanas, então se elas conseguem sentir a gravidade, é provável que seja por meio de um mecanismo muito diferente do que vemos em organismos maiores”, diz Carrol. “Descobrir isso seria fascinante.” Com a segunda rodada de amostras agora sob análise, a equipe de pesquisa aguarda novas descobertas que podem moldar o futuro da exploração espacial e da microbiologia. “Quanto mais aprendermos agora, mais preparados estaremos para a próxima fronteira”, afirma o professor que desenvolve a pesquisa com a colaboração de Kelly Rice, professora adjunta de Microbiologia e Ciência Celular da Universidade da Flórida.