Cientistas descobriram novas evidências de que Marte já teve um oceano com praias arenosas e não apenas rios como estudos anteriores haviam indicado. A informação foi publicada nesta segunda-feira (24) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e reforça a ideia de que o chamado “Planeta Vermelho” pode ter abrigado vidas no passado. Os dados do radar de penetração de solo obtidos pelo rover chinês Zhurong revelaram evidências enterradas sob a superfície marciana de depósitos de areia costeiros que cercavam um suposto oceano, chamado Deuteronilus, que existiu há cerca de 3,5 a 4 bilhões de anos, quando Marte possuía uma atmosfera mais espessa e um clima mais quente do que o atual. Segundo os cientistas, a concentração de água líquida na superfície pode ter abrigado organismos vivos, assim como os mares primordiais da Terra.
O rover percorreu cerca de 1,9 km em uma área que exibe características de superfícies e que sugerem uma antiga linha costeira. O radar de penetração de solo sondou até 80 metros abaixo da superfície com a transmissão de ondas de rádio de alta frequência para o chão, que refletiram as características do subsolo. Pelas imagens de radar foram detectados cerca de 10 a 35 metros de camadas subterrâneas espessas de materiais com propriedades semelhantes às da areia, inclinadas na mesma direção e em um ângulo semelhante ao das praias da Terra, logo abaixo da água.
O cientista planetário da Universidade de Guangzhou, Hai Liu, membro da equipe científica da missão chinesa Tianwen-1, que incluiu o rover, disse que “a superfície de Marte mudou dramaticamente ao longo de 3,5 bilhões de anos, mas, usando o radar de penetração de solo, encontramos evidências diretas de depósitos costeiros que não eram visíveis da superfície”. Só para se ter uma ideia, seria preciso milhões de anos na Terra para formar depósitos de praia do mesmo tamanho encontrados em Marte. Como os planetas do sistema solar foram formados há cerca de 4,5 bilhões de anos, os pesquisadores acreditam que o Deuteronilus teria desaparecido em aproximadamente 1 bilhão de anos de existência de Marte, quando o clima do planeta mudou drasticamente.
Os cientistas acreditam ainda que parte da água do antigo oceano deve ter se perdido no espaço, mas grandes quantidades podem ter ficado presas no subsolo marciano. A informação coincide com as descobertas de outro estudo publicado anteriormente, feito com dados sísmicos obtidos pela sonda robótica InSight, da Nasa, que sinalizou que um imenso reservatório de água líquida pode estar localizado nas profundezas da superfície do Planeta Vermelho, dentro de rochas ígneas fraturadas. Visitado por várias missões desde 1960, atualmente duas sondas estão ativas na superfície de Marte coletando dados: a Perseverance, que chegou em 2021, e a Curiosity, que chegou em 2012.
O rover Zhurong é o primeiro rover chinês a explorar o planeta. Ele chegou em Marte no mês de maio de 2021, após sete meses de viagem. O equipamento esteve ativo até maio de 2022, quando durante o inverno marciano entrou em modo hibernação. Depois não respondeu mais às tentativas de contato, possivelmente por ter sido soterrado por poeira.