Quando ouvimos falar de menopausa logo pensamos nas ondas de calor. Mas há outros sintomas associados como sono interrompido, alterações de humor, fadiga e falta de energia. E não para por aí, há ainda outro fator que raramente entra na conversa sobre o tratamento dos sintomas que afetam negativamente a qualidade de vida das mulheres. Estamos falando do sangramento menstrual anormal ou intenso que comumente ocorre durante a menopausa e a perimenopausa.
Mesmo a escala mais frequentemente usada para avaliar os sintomas da menopausa em estudos de pesquisa, a Escala de Avaliação da Menopausa, não inclui perguntas sobre sangramento menstrual. Mas uma nova pesquisa liderada pela Universidade de Michigan busca modificar este cenário e quer ser a primeira a avaliar a ligação entre sangramento menstrual intenso e prolongado e fadiga e falta de ânimo à medida que as mulheres se aproximam da menopausa. O estudo, publicado na Revista Menopause, acompanhou 2.329 mulheres de meia-idade que mantiveram diários menstruais e completaram pesquisas anuais de 1996 a 2005.
A professora emérita de epidemiologia e de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Michigan, Sioban Harlow, é autora do estudo e afirma que nenhuma pesquisa até agora havia analisado as mudanças na duração e no fluxo menstrual e como essas alterações podem contribuir para outros sintomas comuns da menopausa, como distúrbios do sono e cansaço. Outro diferencial do estudo está no acompanhamento detalhado: durante dez anos foram registrados calendários menstruais mensais e coletadas informações sobre fadiga conforme as participantes avançavam na menopausa.
A pesquisa busca compreender se o sangramento anormal é uma causa biológica para o cansaço e a falta de energia típicos dessa fase. À medida que a menopausa se aproxima, o sangramento menstrual tende a se tornar mais intenso e prolongado. Para cerca de um terço das mulheres, ele pode se tornar excessivo, durando mais de oito dias ou exigindo trocas frequentes de absorventes e tampões, muitas vezes acompanhadas de episódios de sangramento que transbordam e sujam as roupas. Esse fenômeno pode levar à deficiência de ferro, uma condição diretamente associada à fadiga. Embora o cansaço seja uma queixa recorrente entre mulheres na menopausa, a literatura científica e leiga raramente discute suas possíveis causas, que podem incluir tanto a interrupção do sono — provocada por ondas de calor e necessidade de trocas noturnas de absorventes — quanto a anemia decorrente da perda excessiva de ferro.
A pesquisadora também destaca que, historicamente, os estudos sobre menopausa focaram na fase pós-menopausa, quando o ciclo menstrual já cessou. No entanto, as mudanças no padrão de sangramento ocorrem durante a transição menopausal, ou perimenopausa, um período que pode durar de cinco a dez anos e é marcado pelo surgimento dos primeiros sintomas da menopausa. Além disso, o tabu em torno da menstruação dificulta a disseminação de informações sobre o que é considerado normal nesse período da vida, deixando muitas mulheres sem referências sobre as mudanças que podem esperar. Como resultado, a disfunção menstrual acaba sendo negligenciada pela pesquisa médica, apesar de seu impacto significativo na saúde.
A principal mensagem do estudo é clara: episódios de sangramento muito intenso ou prolongado são comuns na transição da menopausa e podem estar diretamente relacionados à fadiga. Ambas as condições podem afetar a qualidade de vida, mas são tratáveis e não devem ser simplesmente suportadas. No entanto, encontrar um profissional de saúde experiente e atento às preocupações da paciente pode ser um desafio.
Para Harlow, os profissionais da saúde precisam estar mais preparados para lidar com essas questões. Médicos de atenção primária recebem pouco treinamento sobre menstruação e menopausa e, muitas vezes, não associam o sangramento uterino anormal à fadiga. Como essas condições podem ser tratadas, é essencial que as pacientes tenham acesso a informações sobre todas as opções terapêuticas disponíveis. Além disso, ao avaliar casos de fadiga, os médicos devem incluir um histórico menstrual completo.
A pesquisadora e os coautores Michelle Hood, Alain Mukwege e John Randolph (Universidade de Michigan), Gail Greendale (UCLA) e Ellen Gold (Universidade da Califórnia, Davis) defendem que o sangramento uterino anormal deve ser uma prioridade em pesquisas futuras. Ainda há lacunas importantes no entendimento sobre a frequência desse fenômeno e seu impacto na saúde e qualidade de vida das mulheres. É fundamental investigar se há relação entre esse tipo de sangramento e outros sintomas da menopausa, como distúrbios do sono, névoa cognitiva e dificuldades sociais. Segundo Harlow, mulheres precisam dessas informações para tomar decisões mais informadas sobre sua saúde.