Em tempos de incerteza nos mercados, o que para muitos é sinônimo de risco, para outros pode ser uma valiosa oportunidade de aprendizado. É o que vem acontecendo no Babson College, nos Estados Unidos, onde alunos de graduação e pós-graduação estão sendo treinados para tomar decisões de investimento em meio à alta volatilidade — sob supervisão direta de professores experientes e com acesso a um fundo real de US$ 6 milhões. A experiência é coordenada pelo Stephen D. Cutler Center for Investments and Finance, que opera como um verdadeiro laboratório financeiro. Lá, os estudantes do Babson College Fund assumem responsabilidades similares às de um gestor profissional, acompanhando em tempo real os efeitos de decisões macroeconômicas — como a recente suspensão de tarifas internacionais — e respondendo com estratégias baseadas em pesquisa, disciplina e pensamento de longo prazo.
“Mercados turbulentos oferecem oportunidades raras de comprar ações de alta qualidade a preços atrativos”, afirma Patrick Gregory, diretor administrativo do centro. A orientação é clara: a volatilidade não é um obstáculo, mas uma chance de testar hipóteses, reforçar convicções e aprimorar decisões sob pressão. A estratégia aplicada pelos estudantes em 2020, durante a crise da COVID-19, é lembrada como um exemplo de sucesso: eles superaram o índice S&P 500 em mais de mil pontos-base. A receita envolvia pesquisa disciplinada, foco em fundamentos e paciência. “Nossos alunos estão aplicando métodos semelhantes agora”, destaca Gregory.
Para o também professor Ryan Davies, a chave é manter a consistência do processo, mesmo diante de incertezas geopolíticas e riscos sistêmicos. “Os gestores do fundo devem continuar seguindo a mesma metodologia para encontrar valor dentro dos setores que acompanham”, ressalta. A filosofia é compartilhada com novos investidores — inclusive aqueles que dão os primeiros passos em planos de aposentadoria. O recado dos professores é claro: não se deve reagir impulsivamente a oscilações de curto prazo, mas sim reavaliar estratégias de alocação e garantir aderência aos objetivos de longo prazo.
Um modelo para o Brasil?
Enquanto nos Estados Unidos os estudantes têm a chance de operar recursos reais e tomar decisões críticas antes mesmo da formatura, no Brasil, a formação de investidores e gestores de fundos ainda está fortemente ancorada na teoria. A iniciativa da Babson College mostra como a educação prática — com responsabilidade real e mentoria qualificada — pode acelerar o desenvolvimento de uma nova geração de profissionais mais preparados para lidar com ciclos econômicos complexos.
Em um mercado cada vez mais dinâmico, marcado pela ascensão da inteligência artificial, novas tecnologias e riscos globais, o Brasil pode — e deve — olhar para modelos como o do Babson College para repensar a formação de líderes no setor financeiro. Afinal, como ressaltam os professores americanos, os fundamentos continuam sendo o que de fato sustenta o sucesso a longo prazo: “Concentre-se nos fundamentos, seja paciente e aprenda com cada ciclo do mercado.”